segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Caixa craniana = casca de noz

– O que faz aquela pomba gorda parada bem na entrada da garagem?
– Será que ela tá grávida?
– Que grávida o quê!!! Deve estar doente.
– Ah! Bota ovo, né?!

Eu e minha cara metade voltando de viagem este fim de semana...

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Um rosário a quem interessar possa

No futuro do pretério imperfeito, ela flutua a passos de elefante. Estrondo. Fitas métricas e balanças a medir o tempo. Não é à toa que estranhamente o fluido da bateria de seu relógio de pulso escorre, resseca e cristaliza em torno dos pelos do braço esquerdo. Se pergunta qual a diferença entre o sangue e o vinho. O gosto de ambos é rascante, porém o sangue é ferruginoso.

E Cristo veio confundir a todos.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Pra fora do espelho

Podia ficar só. Na frente do computador, amaciando o teclado, dançando com os dedos. Podia dizer como as coisas são através do filtro dos meus óculos arranhados e minha íris escura. Podia esboçar tipograficamente quaisquer emoções pontualmente contemporâneas ao momento...

As coisas precisam das cores que não se pode ver.

terça-feira, 15 de julho de 2008

Cafeína

Drogas pra quê se existe o café? Cafeína é substância transgressora, minha gente. A vantagem é a licitude no ato de sua aquisição. Tá certo, transgressão e licitude são paradoxais, mas nada pode ser mais elegante do que aquilo que transgride sob o aval das regras. É libertário perder a cabeça e o freio moral através de uma xícara de expresso. Não tem que subir morro, tratar com delinqüentes perigosos. Cafeína tem na padaria, no supermercado, no bistrô, na casa da avó... Cocaína, ao contrário, é droga clandestina, que aprisiona. Quem, considerado cidadão no exercício de sua sanidade, bate uma carreira no balcão da padaria sem culpa? Havendo algum sujeito que o faça, me falem, será meu ídolo. Café, não. Café é pra quem não quer viver com medo e quer ser livre pra perder as estribeiras por aí sem carregar o peso da rejeição social nas costas. A taquicardia é a mesma, a neura, a falha perceptiva, o poder... Tudo isso tá no café, tá na cocaína e nas inas por aí nas farmácias. Contudo, o café é uma droga família que, dos males estéticos, traz apenas um possível escurecimento no esmalte dos dentes. A cocaína, essa suja substância vadia, eventualmente faz cair os pelos das narinas, corrói a cartilagem das fossas nasais acabando por escorrer pelo rosto do usuário, numa cena nada sedutora. “Desculpa, querida, mas tem pó escorrendo do seu nariz.” Não se trata exatamente de uma apresentação das mais bem quistas em qualquer ocasião, quiçá em ocasião alguma. É por isso que brindo com uma chávena de chá (as crises de ansiedade e a aversão a ansiolíticos tornam proibitivo o consumo do café em momentos discursivos como este) a esta planta que, de tão apreciada, consta do brasão de nossa república.

sábado, 21 de junho de 2008

Múmia recém saída do sarcófago

Bom dia, meus caros e ilustres desconhecidos!

Resolvi migrar do Blogger Brasil pra cá por questões técnicas. Fica o link pro sítio arqueológico, pra matar – ou não – a saudade.

Pra inaugurar este novo espaço, adianto que a nova reforma ortográfica da língua portuguesa será ignorada por tempo indeterminado.

Hoje acordei às 4h04, precisamente, após desmaio em frente à TV, vendo minha série favorita. Tinha esse hábito de acordar de madrugada, quando minha insônia marota estava em sua fina flor. Felizmente, pensei ter resolvido tal problema com exercícios de respiração, meditação, terapia e medicamentos, mas é fato que visitantes desagradáveis acabam por bater à nossa porta e inSôninha veio me visitar. Otimista, imagino que tenha sido por conta de o desmaio ter-me impedido de trocar a calça jeans por um pijaminha. Sabe como é calça jeans... Ô peça de vestuário marota...

Alguém recomenda que eu dê um pulo na praça pra jogar damas ou faça uma caminhada na orla acompanhada por uma enfermeira? O horário é apropriado...

Quando a gente acorda de madrugada enquanto todo mundo tá se divertindo ou voltando pra casa da noitada, etc., dá esses rompantes de publicar blog e querer descobrir o Brasil por telefone, fax, SMS, e-mail, Orkut, Facebook, Fotolog, Flickr e o cara do alho a quatro. Essa solidão patética que faz o ser humano querer virar poeta ou prosador no meio da falta do que fazer... Foi isso que fiz: tava insatisfeita com o congelamento estrutural do meu hospedeiro virtual e vim traí-lo, por absoluta razão nenhuma.

Pra fazer valer a leitura, vou contar uma histórinha sobre o meu problema de identidade.

Tendo acendência lusa, como é sabido, fui agraciada com um nome típico e incrivelmente comum tanto na Lusitânia quanto aqui. Talvez tão comum quanto a minha cara. Se os Silva reclamam que seu sobrenome é comum, digo que o conjunto da obra do meu nome causa problemas à minha pessoa. Tenho dificuldade de criar identidades eletrônicas e recebo engano por e-mail sempre. Aliás isso é um fato curioso. Por que diabos as pessoas têm que deduzir o e-mail das outras do vácuo, num rompante do que devem crer ser um sopro de genialidade? Por que não perguntar aos coleguinhas seu endereço de e-mail correto? Tá bom, perdoarei os erros de digitação, mas até hoje só vieram até mim, os gênios da dedução.

Falando da minha cara, essa então me confere o anonimato maior que um ser humano pode vivenciar – ou seria isso uma espécie de popularidade torta? Desde tempos muito remotos, me confundem com parentes e amigos de pessoas que não conheço. Vez ou outra isso me faz parecer bastante antipática, porque há os que gritam e vêm correndo atrás de mim em busca de uma explicação pro fato de eu ignorá-los solenemente na rua. Não, meus queridos: não me chamo Márcia, Flávia, Fernanda, Maria Aparecida e por aí vai. Não sou prima, amiga, cunhada, irmã, tia, mulher, colega de trabalho ou o que quer que seja de ninguém que vocês conheçam.

Certa vez – acho até que já contei isso no sítio arqueológico, talvez até essa história toda de identidade – uma moça na faculdade veio até mim, me deu um tapão na bunda e puxou papo animadíssima. Tomei um susto e fiquei pensando que talvez nos conhecêssemos de algum lugar há muito tempo e tenhamos perdido o contato. Depois pensei que pudesse ter bebido demais e ficado horas conversando com ela em alguma festa. Sou dada a falar quando bebo muito e depois a amnésia é fatal... Contudo, o fato é que eu realmente nunca tinha visto aquela mulher na minha vida, nem sequer tinha esbarrado com ela pelos corredores naquele que era meu último ano na faculdade. Ela insistiu muito que eu era aquela pessoa que estudava com ela na aula da disciplina X e eu dizia pra ela que não, que era impossível, dado que já havia concluído a tal disciplina havia dois anos. Nunca vi uma pessoa tão confusa por ter-me confundido com outra. Deu trabalho explicar e fazê-la entender que eu não era a amiga dela fazendo uma pegadinha.

A vida é assim mesmo, são apenas algumas combinações possíveis até que tudo se repita.

Beijo, obrigada e bom lanche!