terça-feira, 15 de julho de 2008

Cafeína

Drogas pra quê se existe o café? Cafeína é substância transgressora, minha gente. A vantagem é a licitude no ato de sua aquisição. Tá certo, transgressão e licitude são paradoxais, mas nada pode ser mais elegante do que aquilo que transgride sob o aval das regras. É libertário perder a cabeça e o freio moral através de uma xícara de expresso. Não tem que subir morro, tratar com delinqüentes perigosos. Cafeína tem na padaria, no supermercado, no bistrô, na casa da avó... Cocaína, ao contrário, é droga clandestina, que aprisiona. Quem, considerado cidadão no exercício de sua sanidade, bate uma carreira no balcão da padaria sem culpa? Havendo algum sujeito que o faça, me falem, será meu ídolo. Café, não. Café é pra quem não quer viver com medo e quer ser livre pra perder as estribeiras por aí sem carregar o peso da rejeição social nas costas. A taquicardia é a mesma, a neura, a falha perceptiva, o poder... Tudo isso tá no café, tá na cocaína e nas inas por aí nas farmácias. Contudo, o café é uma droga família que, dos males estéticos, traz apenas um possível escurecimento no esmalte dos dentes. A cocaína, essa suja substância vadia, eventualmente faz cair os pelos das narinas, corrói a cartilagem das fossas nasais acabando por escorrer pelo rosto do usuário, numa cena nada sedutora. “Desculpa, querida, mas tem pó escorrendo do seu nariz.” Não se trata exatamente de uma apresentação das mais bem quistas em qualquer ocasião, quiçá em ocasião alguma. É por isso que brindo com uma chávena de chá (as crises de ansiedade e a aversão a ansiolíticos tornam proibitivo o consumo do café em momentos discursivos como este) a esta planta que, de tão apreciada, consta do brasão de nossa república.

2 comentários:

Carol disse...

que café é esse que você achou? eu tomo o dia inteiro e ainda assiim preciso lutar contra morfeu que me estupra no horário comercial!

palácios disse...

pelo visto não é só vc que acha... =)

http://br.youtube.com/watch?v=ClcADzc6GHk&feature=related